A I Guerra Mundial foi marcada por vários
fatores que conduziram ao conflito. Neste postagem buscaremos verificar um
outro lado do fato histórico, a sensação da constante presença da Morte para os
soldados no campo de batalha, independente de qual lado lutassem. Abro esta
postagem com um trecho da carta do soldado Raymond Naegelen:
"O Odor é fétido nos penetra garganta
a dentro ao chegarmos na nossa nova trincheira, a direita dos Éparges. Chove
torrencialmente e nos protegemos com o que tem lonas e tendas de campanha
afiançadas nos muros da trincheira. Ao amanhecer do dia seguinte constatamos
estarrecidos que nossas trincheiras estavam feitas sobre um montão de cadáveres
e que as lonas que nossos predecessores haviam colocado, estavam para ocultar
da vista os corpos e restos humanos que ali haviam" (Raymond Naegelen,
região de Champagne) - trecho retirado do site sobre cartas de soldados
da I Guerra Mundial
Como podemos observar, a relação da morte
com estes soldados era intensa. Primeiramente eles sabiam do grande risco da
perda da vida no campo de batalha, depois presenciavam o potencial do armamento
bélico e por fim o medo dava lugar a consciência e ao observamos em todos os
textos que podemos ler dessas cartas dos soldados da I Guerra Mundial, era a
descrição presente da morte em campo e a saudade que isso conduzia do lar.
"Conseguem imaginar-me numa tarde de
Domingo, sentado no chão ou enterrado numa lama, sem me ter barbeado ou mudado
minhas roupas e botas há cinco dias. Temos muita companhia de ratazanas e
ratos [...] Há dias um soldado estava a jantar e um atravessou-se no seu prato,
ele espetou-lhe o garfo e comeu-o, depois continuou como se nada tivesse
passado. De fato, é dramático que uma nação tão civilizada esteja enterrada
numa bárbarie como esta guerra [...] Vivemos como minhocas, nunca vemos a luz
do dia, enterrados, ao longo de oito dias apenas vemos os muros da
trincheira" (Carta de Thomas, Soldado Inglês, em 1/11/1915)
Podemos perceber nas cartas, nos diários uma "consciência da
morte", aos longos dos anos a morte ,como um dado
antropológico, cuja presença tem sido motivo de angústia para o ser humano ao
longo de sua existência, expondo-lhe, inexoravelmente, sua vulnerabilidade de
ser mortal. Nós, humanos, como todos os seres vivos marcados pela
temporalidade da vida, lutamos contra a idéia de nossa finitude, sendo que
temos buscado o alívio possível para o paradoxo existencial que se apresenta
frente ao dualismo vida e morte. Tal paradoxo tem sido marcante na cultura
ocidental e agudiza, sobremaneira, essa angústia, tornando mais difícil o seu
enfrentamento, visto que colocamos em situação de oposição esses dois momentos
de uma mesma realidade: a de sermos seres vivos e que, portanto, iremos morrer
um dia.
A cartas e os diários dos soldados durante todo o período da I Grande
Guerra, é um ritual de perpetuar as últimas memórias em vida, para não ser
esquecido na morte. Dentro dessa perspectiva, a ritualização mítica da
morte tem tido a função de transcender o sofrimento pela finitude do ser
humano, pois, desde tempos imemoriais, o dado primeiro, fundamental e universal
da morte humana é a sepultura, mostrando assim que é isso o que nos assegura
nossa ‘humanidade’ em relação aos demais animais. A morte sempre suscitou
emoções que se socializaram em práticas fúnebres, e o não-abandono dos mortos
implica uma crença na sua sobrevivência, não existindo praticamente qualquer
grupo, por muito ‘primitivo’ que seja, que abandone os seus mortos ou que os
abandone sem ritos. Esses ritos trazem a imagem de ‘passagem’ para um outro
estágio, sempre como metáfora de prolongamento da vida, seja ela através de um
sono, uma viagem, um nascimento, uma doença, seja através de uma entrada para a
morada dos antepassados. Projeta-se, assim, a vida para um tempo indefinido,
mas não necessariamente eterno.
Reflexão elaborada pela Profa. Ludmila Pena Fuzzi.
Partindo deste ponto, os professores do Laboratório de Humanidades propuseram aos alunos dos 9º Anos A, B e C da EMIEF Marisa Lapido Barbosa, do Sistema Municipal de Educação de Taubaté a elaborarem um "Varal da Morte" e a confecção de objetos do dia a dia das trincheiras. Os trabalhos foram elaborados em equipe e trouxeram imagens, reflexões de poemas brasileiros, trechos de músicas e muitos outros. O resultado conduziu compreender o sentido da Morte dentro do conteúdo curricular previsto.
Foi tudo muito bom casa preparamento do trabalho!!
ResponderExcluirQue bom que esta gostando do projeto! Tem muita coisa por vir ainda! Você é aluno de qual escola e ano? Cristiano seu professor?
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